PARTIR DE CRISTO
(MENSAGEM PASTORAL DOS BISPOS CATÓLICOS DE ANGOLA NO ANO DA SANTIFICAÇÃO)
INTRODUÇÃO
1. O Saudoso Papa, o Servo de Deus João Paulo II, publicou em Janeiro de 2001 a Carta Apostólica “ Novo Millennio Ineunte (NMI), traduzida em português com o título “No Início do Novo Milénio”. Nesta Carta programática ele deixou‑nos as linhas orientadoras para, segundo as suas palavras, «a entusiasmante obra do relançamento pastoral». Neste programa aponta como prioridade das prioridades a SANTIDADE.
2. A partir daquela Carta a CEAST, como as demais Conferências Episcopais do Mundo, elaborou o seu plano de pastoral, cujos programas começaram a ser implementados em 2006, ano que dedicámos ao “duc in altum” in docendo - “faz-te ao largo» (Lc 5, 4) ensinando.
Neste ano de 2007, dedicado à santificação, apostamos em concentrar os nossos esforços na vocação universal à SANTIDADE, partindo do Mistério de Cristo celebrado na Liturgia, particularmente com a Santa Missa.
Com efeito, Deus dissera a Moisés: “Fala aos filhos de Israel e diz-lhes: sede santos, porque Eu, o Senhor, sou Santo» (Lev 19, 2). E Jesus, por sua vez, acrescentou: “Sede perfeitos, como é perfeito o vosso Pai celeste» (Mt 5, 48).
I. PARTIR DE CRISTO, O REDENTOR
1. A Carta Apostólica a que nos referimos traz no seu 3º Capítulo a expressão-chave desta nossa Mensagem: Partir de Cristo.
Diz o Vaticano II: «A luz dos Povos é Cristo. Por isso, este Sagrado Concílio deseja ardentemente iluminar todos os homens com a sua luz que resplandece no rosto da Igreja, anunciando o Evangelho a toda a criatura» (LG 1; cf. Mc16,15). Portanto, é dessa luz que parte toda a renovação de pessoas, instituições e estruturas.
2. No ano dedicado à santidade, falamos dela partindo daquela página da Bíblia que nos relata não só a criação do homem à imagem e semelhança de Deus como também a queda do mesmo homem no pecado.
O Novo Catecismo diz, a propósito: «O homem, tentado pelo Diabo, deixou apagar no seu coração a confiança em relação ao seu Criador e, desobedecendo-Lhe, quis tornar-se ‘como Deus’, ‘ser-Deus’ e não ‘segundo-Deus’ » (Gn 3, 5). Assim, Adão e Eva perderam imediatamente, para si e para todos os seus descendentes, a graça da santidade e da justiça originais.
3. Desta feita o pecado original debilitou a natureza do homem, física, moral e espiritualmente. O regresso à condição primitiva tornou-se penoso mas possível, graças à Redenção de Cristo.
Ontem como hoje, perante a santidade de Deus, o homem, como o Profeta Isaías, reconhece que tem os lábios impuros, e desejaria tê-los purificados.
4. Partir de Cristo, o Redentor, é acreditar que o pecado nos afasta de Deus, que pecar é dizer ‘não’ à vontade de Deus expressa nos Mandamentos da Sua Lei. E porque Deus, como o pai misericordioso do Evangelho, espera o nosso regresso, acreditamos no convite de Jesus que nos diz: «Chegou o tempo, e o Reino de Deus está perto: arrependei-vos e acreditai no Evangelho» (Mc 1,15).
II. PARTIR DE CRISTO, O BOM PASTOR
1. S. Pedro, falando ao Povo no dia de Pentecostes, apresenta, não uma fórmula abstracta, mas a Pessoa de Jesus que os Judeus mataram e Deus ressuscitou dos Mortos, segundo as Escrituras. Naquele dia criou-se uma comunidade de cerca de três mil crentes que «eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união fraterna, à fracção do pão e às orações» (Act 2, 42). A nossa acção pastoral, partindo de Cristo, o Bom‑Pastor, é chamada a criar e fortalecer comunidades à imagem da comunidade acima referida.
2. Escutando a Lumen Gentium do Vaticano II, aprendemos que todos nós somos chamados: «à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade» (LG 40). Então entendemos que ser santo é estar unido a Deus, por Jesus Cristo, o Bom Pastor das almas (cf. 1Ped 2, 25), na comunhão do Espírito Santo; entendemos que o santo ou a santa é aquela pessoa que, como Maria Mãe de Jesus, sabe dizer ao Senhor: “eis‑me aqui, faça-se em mim segundo a vossa palavra” (Lc 1, 38). Ter consciência do pecado é compreender a ofensa que ele causa a Deus e o mal que ele nos causa a nós, privando-nos da graça e da salvação. E, por isso, quem compreende a natureza do pecado procura os meios para o evitar, mantendo-se firme na fidelidade baptismal. Era isto que João Paulo II pedia frequentemente nas suas Mensagens, quando dizia: «não tenhais medo de ser santos»!
3. «Se alguém Me ama guardará a minha palavra; Meu Pai amá-lo-á, e nós viremos a ele e faremos nele morada» (Jo 14, 22-23). Ser morada de Deus é ser santo, é sentir a água‑viva que jorra em nós, O Espírito Santo (cf. Jo 8,38), a impelir-nos para o apostolado, seja como Leigos porque fomos crismados, seja como presbíteros porque pela ordenação ficamos configurados com Cristo, o Bom Pastor. Todavia, partir de Cristo, o Bom Pastor, é para todos: pessoas, famílias e instituições de toda a ordem.
III. PARTIR DE CRISTO, O HOMEM NOVO
1. S. João, no Apocalipse, viu que a Nova Jerusalém descia do Céu, resplandecente de glória. Era a imagem da Igreja que, reflectindo a luz de Cristo, o Homem Novo, mostrava em visão a sua natureza de Igreja humana e divina, pecadora e santa nos seus membros, mas santíssima na sua cabeça que é Cristo. Para falar do Homem Novo, recordamos aquela sugestiva cena da porta do Templo: os Apóstolos Pedro e João e o Paralítico. Este pedia-lhes uma esmola, mas os Apóstolos olhavam-no fixamente. Entretanto, Pedro falou‑lhe em nome duma Pessoa que morrera e ressuscitara – Jesus de Nazaré. O resultado foi a imediata cura do paralítico, operada em nome do mesmo Jesus (cf. Act 3,1‑6).
2. A Igreja de Angola continua empenhada em trilhar esta mesma via: evangelizar a pessoa humana, promovendo-a em toda a dimensão. Por isso, ela não se alheia às tarefas temporais que afectam o homem. Da sua parceria com o Estado, mormente através de protocolos assinados ou em vias de assinar, espera-se que, à luz do “duc in altum in santificando”, provenham abundantes frutos de santidade, em quaisquer esferas da vida social.
3. Nesta linha, celebrou-se em Luanda de 6 a 10 de Fevereiro passado, a 3ª Semana Social, que reflectiu sobre a Justiça Social. A passada Assembleia-Geral da CARITAS de ANGOLA traçou as novas estratégias da nossa Pastoral Social para os próximos anos. Também a nível regional nos preparamos para a Assembleia Plenária da IMBISA (Associação dos Bispos Católicos da África Austral) que se reunirá em Luanda de 20 a 26 de Julho, com o seguinte tema: “ A Boa Governação e o Desenvolvimento”.
4. Portanto, Irmãos, a semente da santidade que todos recebemos no dia do nosso Baptismo, temos obrigação de fazer com que, germinando, cresça e, crescendo, dê frutos de santidade, seja qual for o estado de vida e a profissão que tenhamos na sociedade.
É nesta linha que a ECCLESIA IN AFRICA pede a Deus que haja em África políticos (homens e mulheres) santos, isto é, Chefes de Estado, Ministros, Deputados, Sindicalistas, Empresários, que sirvam os irmãos “em santidade e justiça”. Então, todos nós seremos HOMENS‑NOVOS em Cristo e como Cristo (cf. EIA 111).
CONCLUSÃO
1. «Do Mistério Pascal de Cristo nasce a Igreja. Por isso mesmo, a Eucaristia, que é o Sacramento por excelência do Mistério Pascal, está colocada no centro da vida eclesial» (Da Carta Encíclica “ A igreja vive da Eucaristia”).
2. Nós, os Sacerdotes, somos especialmente chamados a empenhar-nos na nossa santificação pessoal, para sermos guias credíveis da comunidade cristã. Por isso, as acções litúrgicas (Missa e Sacramentos) sejam celebradas com exemplar fervor e devoção.
3. Na Catequese ponhamos em evidência a vocação de todos à santidade, cujos meios são: a fidelidade às promessas baptismais de renúncia ao pecado e de fé viva em Jesus Cristo, assim como a frequência dos Sacramentos e a prática da Oração.
Celebrando actualmente o mês de S. José, o Homem justo, e estando a preparar-nos, com a Quaresma, para celebrar o Mistério Pascal de Cristo, auspiciamos para todos os nossos Fiéis, com Maria Mãe de Jesus, Santas e Felizes Festas Pascais.
Luanda, aos 6 de Março de 2007
Os Bispos Católicos de Angola
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