sexta-feira, março 18, 2005

CARTA DO SANTO PADRE POR OCASIÃO DA QUINTA-FEIRA SANTA DE 2005

CARTA DO SANTO PADRE
JOÃO PAULO II
AOS SACERDOTES
POR OCASIÃO DA
QUINTA-FEIRA SANTA DE 2005

Queridos sacerdotes!
1. Neste Ano da Eucaristia, sinto uma particular alegria em encontrar-me espiritualmente convosco, como sucede anualmente, por ocasião da Quinta-feira Santa, o dia do amor de Cristo levado « até ao extremo » (cf. Jo 13, 1), o dia da Eucaristia, o dia do nosso sacerdócio.

Dirijo-me a vós, sacerdotes, durante um período de tratamento e recuperação que tive de passar no hospital, doente entre os doentes, unindo, na Eucaristia, o meu sofrimento ao de Cristo. Neste espírito, quero reflectir convosco sobre alguns aspectos da nossa espiritualidade sacerdotal.

Irei fazê-lo, deixando-me guiar pelas palavras da instituição da Eucaristia, as mesmas que diariamente pronunciamos, in persona Christi, para tornar presente sobre os nossos altares o sacrifício realizado uma vez por todas no Calvário; é que de tais palavras brotam indicações de espiritualidade sacerdotal muito elucidativas: se toda a Igreja vive da Eucaristia, a existência sacerdotal deve a título especial tomar « forma eucarística ». Por isso, as palavras da instituição devem ser, para nós, não apenas uma fórmula de consagração, mas uma « fórmula de vida ».

Uma existência profundamente « agradecida »
2. « Tibi gratias agens benedixit... ». Em cada Missa, recordamos e revivemos o primeiro sentimento expresso por Jesus quando partiu o pão: o sentimento de acção de graças. O agradecimento é a atitude que está na base do próprio termo « Eucaristia ». Dentro deste gesto de gratidão, vem confluir toda a espiritualidade bíblica do louvor pelas mirabilia Dei. Deus ama-nos, precede-nos com a sua Providência, acompanha-nos com intervenções contínuas de salvação.

Na Eucaristia, Jesus agradece ao Pai connosco e por nós. Como poderia esta acção de graças de Jesus deixar de plasmar a vida do sacerdote? Este sabe que deve cultivar um espírito constantemente agradecido pelos numerosos dons recebidos ao longo da sua existência, particularmente pelo dom da fé, da qual se tornou arauto, e pelo dom do sacerdócio, que o consagra inteiramente ao serviço do Reino de Deus. Temos as nossas cruzes — e não somos certamente os únicos a havê-las! — mas os dons recebidos são tão grandes que não podemos deixar de cantar, do fundo do coração, o nosso Magnificat.

Uma existência « doada »
3. « Accipite et manducate... Accipite et bibite... ». A auto-doação de Cristo, que tem a sua fonte na vida trinitária do Deus-Amor, atinge a sua expressão mais alta no sacrifício da Cruz, cuja antecipação sacramental é a Última Ceia. Não é possível repetir as palavras da consagração sem sentir-se implicado neste movimento espiritual. Em certo sentido, o sacerdote deve aprender a dizer, com verdade e generosidade, também de si próprio: « tomai e comei ». De facto, a sua vida tem sentido, se ele souber fazer-se dom, colocando-se à disposição da comunidade e ao serviço de qualquer pessoa que passe necessidade.

Era isto precisamente que Jesus esperava dos seus apóstolos, como sublinha o evangelista João ao narrar o lava-pés. O mesmo espera do sacerdote o Povo de Deus. Pensando bem, a obediência, a que ele se comprometeu no dia da Ordenação e cuja promessa é convidado a renovar na Missa Crismal, é ilustrada por esta relação com a Eucaristia. Obedecendo por amor, renunciando mesmo a legítimos espaços de liberdade quando se trata de aderir a um autorizado discernimento dos Bispos, o sacerdote realiza na própria carne aquele « tomai e comei » de Cristo, quando, na Última Ceia, Se entregou a Si próprio à Igreja.

Uma existência « salvada » para salvar
4. « Hoc est enim corpus meum quod pro vobis tradetur ». O corpo e o sangue de Cristo são entregues para a salvação do homem, do homem todo e de todos os homens. É uma salvação integral e simultaneamente universal, porque não há homem — salvo livre acto de recusa — que esteja excluído da força salvadora do sangue de Cristo: « qui pro vobis e pro multis effundetur ». Trata-se dum sacrifício oferecido por « muitos », como se lê no texto bíblico (Mc 14, 24; Mt 26, 28; cf. Is 53, 11-12) com uma típica figura literária semita que, aliando dois opostos — no nosso caso, a multidão abrangida pela salvação e um só, Cristo, que a realizou —, indica a totalidade do seres humanos aos quais a salvação é oferecida: é sangue « derramado por vós e por todos », como legitimamente se explicita nalgumas traduções. A carne de Cristo é realmente entregue « pela vida do mundo » (Jo 6, 51; cf. 1 Jo 2, 2).

Ao repetirmos, num silencioso recolhimento da assembleia litúrgica, as venerandas palavras de Cristo, nós, sacerdotes, tornamo-nos arautos privilegiados deste mistério de salvação. Mas como podemos sê-lo eficazmente, sem nos sentirmos nós mesmos salvados? Nós somos os primeiros cujo íntimo é alcançado pela graça, que, libertando-nos das nossas fragilidades, nos faz gritar « Abbá, Pai », com a confiança própria de filhos (cf. Gal 4, 6; Rm 8, 15). E isto obriga-nos a avançar no caminho da perfeição. De facto, a santidade é a manifestação plena da salvação. Só vivendo como salvados é que nos tornamos arautos credíveis da salvação. Por outro lado, cada vez que tomamos consciência da vontade de Cristo de oferecer a todos a salvação, não pode deixar de se reavivar no nosso espírito o ardor missionário, incitando cada um de nós a fazer-se « tudo, para todos, para salvar alguns a todo o custo » (1 Cor 9, 22).

Uma existência « evocativa »
5. « Hoc facite in meam commemorationem ». Estas palavras de Jesus foram conservadas por Lucas (22, 19) e também por Paulo (1 Cor 11, 24). O contexto em que foram pronunciadas — é bom tê-lo presente — é o da ceia pascal, que, para os hebreus, era precisamente um « memorial » (zikkarôn, em hebraico). Naquela circuns- tância, os israelitas reviviam antes de mais nada o Êxodo, mas, com ele, lembravam também os outros acontecimentos importantes da sua história: a vocação de Abraão, o sacrifício de Isaac, a aliança do Sinai, as numerosas intervenções de Deus em defesa do seu povo. Também para os cristãos a Eucaristia é « memorial », e numa medida incomparável: não se limita a recordar, mas actualiza sacramentalmente a morte e ressurreição do Senhor.

Além disso queria sublinhar que Jesus disse: « Fazei isto em memória de Mim ». Por isso, a Eucaristia não recorda simplesmente um facto; recorda-o a Ele! Para o sacerdote, o facto de repetir cada dia, in persona Christi, as palavras do « memorial » é um convite a desenvolver uma « espiritualidade da memória ». Num tempo de rápidas mudanças culturais e sociais que afrouxam o sentimento da tradição e deixam, sobretudo as novas gerações, expostas ao risco de perderem a ligação com as próprias raízes, o sacerdote é chamado a ser, na comunidade que lhe está confiada, o homem com a memória fiel de Cristo e de todo o seu mistério: a sua prefiguração no Antigo Testamento, a sua realização no Novo, o seu aprofundamento progressivo sob a guia do Espírito, segundo esta promessa explícita: Ele « ensinar-vos-á todas as coisas e vos recordará tudo o que vos tenho dito » (Jo 14, 26).

Uma existência « consagrada »
6. « Mysterium fidei! ». Com esta exclamação, o sacerdote exprime, depois de cada vez que consagra o pão e o vinho, o seu assombro sempre renovado pelo prodígio extraordinário que se realizou nas suas mãos. É um prodígio que só os olhos da fé podem enxergar. Os elementos naturais não perdem as suas características externas, dado que as « espécies » continuam a ser as do pão e do vinho; mas a sua « substância », pelo poder da palavra de Cristo e da acção do Espírito Santo, converte-se na substância do corpo e do sangue de Cristo. Assim, sobre o altar, está « verdadeira, real e substancialmente » presente Cristo morto e ressuscitado, com toda a sua humanidade e divindade. Trata-se, portanto, de realidade eminentemente sagrada! Por isso, a Igreja circunda de tanta reverência este Mistério, e vigia atentamente por que sejam observadas as normas litúrgicas que tutelam a santidade de tão grande Sacramento.

Nós, sacerdotes, somos os celebrantes, mas também os guardiões deste sacrossanto Mistério. Da nossa relação com a Eucaristia deriva também a exigência da condição « sagrada » da nossa vida, que deve transparecer em todo o nosso modo de ser, e primariamente no modo de celebrar. Para isso, vamos à escola dos Santos! Este Ano da Eucaristia convida-nos a redescobrir os Santos que deram provas duma devoção particularmente intensa à Eucaristia (cf. Carta Apostólica Mane nobiscum Domine, 31). Disso mesmo, deram exemplar testemunho muitos sacerdotes beatificados e canonizados, suscitando grande fervor nos fiéis que presenciavam as suas Missas. Muitos se distinguiram por uma prolongada adoração eucarística. Permanecer diante de Jesus Eucaristia, valer-se, em certo sentido, das nossas « solidões » para enchê-las desta Presença, significa conferir à nossa consagração todo o calor da intimidade com Cristo, donde recebe alegria e sentido a nossa vida.

Uma existência voltada para Cristo
7. « Mortem tuam annuntiamus, Domine, et tuam resurrectionem confitemur, donec venias ». Sempre que celebramos a Eucaristia, a memória de Cristo no seu mistério pascal torna-se anseio do encontro pleno e definitivo com Ele. Vivemos na expectativa da sua vinda. Na espiritualidade sacerdotal, esta tensão deve ser vivida sob a forma própria da caridade pastoral, que nos obriga a viver no meio do Povo de Deus para orientar o seu caminho e nutrir a sua esperança. Trata-se duma tarefa que requer do sacerdote uma atitude interior semelhante à que o apóstolo Paulo vivia dentro de si mesmo: « Esquecendo-me do que fica para trás e avançando para o que está adiante, prossigo em direcção à meta... » (Fil 3, 13-14). O sacerdote é alguém que, não obstante o passar dos anos, continua a irradiar juventude, de certo modo « contagiando » com ela as pessoas que encontra no seu caminho. O seu segredo está na « paixão » que sente por Cristo. São Paulo dizia: « Para mim, o viver é Cristo » (Fil 1, 21).

Sobretudo no contexto da nova evangelização, as pessoas têm direito de dirigir-se aos sacerdotes com a esperança de « ver » a Cristo neles (cf. Jo 12, 21). Sentem necessidade disso particularmente os jovens, que Cristo continua a chamar a Si para fazer deles seus amigos e propor a alguns a doação total à causa do Reino. Não hão-de certamente faltar as vocações, se subirmos de tom a nossa vida sacerdotal, se formos mais santos, mais alegres, se nos mostrarmos mais apaixonados no exercício do nosso ministério. Um sacerdote « conquistado » por Cristo (cf. Fil 3, 12) pode mais facilmente « conquistar » outros para a opção de fazerem a mesma aventura.

Uma existência « eucarística » na escola de Maria
8. Muito íntima é a relação da Virgem Santíssima com a Eucaristia, como recordei na encíclica Ecclesia de Eucharistia (cf. nn. 53-58). Todas as anáforas eucarísticas, embora na sobriedade própria da linguagem litúrgica, sempre o sublinham. Assim, no Cânone Romano, dizemos: « Em comunhão com toda a Igreja veneramos a memória da gloriosa sempre Virgem Maria, Mãe do nosso Deus e Senhor Jesus Cristo ». Noutras Orações Eucarísticas, como por exemplo na II Anáfora, a veneração transforma-se em súplica: « Dai-nos a graça de participar na vida eterna, com a Virgem Maria, Mãe de Deus ».

Ao insistir nestes anos sobre a contemplação do rosto de Cristo — especialmente nas cartas apostólicas Novo millennio ineunte (cf. nn. 23ss.) e Rosarium Virginis Mariæ (cf. nn. 9ss.) — indiquei Maria como a mestra mais experimentada. Depois, na encíclica sobre a Eucaristia, apresentei-a como « Mulher eucarística » (cf. n. 53). Quem pode, melhor do que Maria, fazer-nos saborear a grandeza do mistério eucarístico? Ninguém pode, como Ela, ensinar-nos com quanto fervor devemos celebrar os santos Mistérios e determo-nos em companhia do seu Filho escondido sob as espécies eucarísticas. Por isso, a Ela vos recordo a todos, entrego-Lhe especialmente os mais idosos, os doentes, quantos se encontram em dificuldade. Nesta Páscoa do Ano da Eucaristia, apraz-me fazer ressoar para cada um de vós a doce e reconfortante declaração de Jesus: « Eis a tua Mãe » (Jo 19, 27).

Com estes sentimentos, de coração vos abençoo a todos, desejando-vos uma profunda alegria pascal.

Da Policlínica Gemelli em Roma, 13 de Março – V domingo da Quaresma – do ano 2005, vigésimo sétimo de Pontificado.

JOÃO PAULO II

sexta-feira, março 11, 2005

Alguns encontros da CEAST

1. Encontro dos Reitores dos Seminários de Filosofia e do Propedêutico e dos respectivos prefeitos de Estudos ( Lar da CEAST, dia 5 de Novembro de 2005)

2. Semana Nacional de fé e cultura será realizada no Lar da CEAST, em Luanda, nos dias 15, 16 e 17 de Novembro de 2005

Bispos da CEAST: Comunicado sobre Diocese de Cabinda






COMUNICADO

Neste momento, sentimos a ausência do Sr. Paulino no nosso primeiro encontro anual de Pastores, enquanto garantes da unidade da Igreja. Mas não sentimos menos o Calvário que está a atravessar. Acompanhamo-lo com nossa fraterna solidariedade e nossa oração.
Quanto ao problema de Cabinda, certamente todos recordam o que dissemos há um ano, na nossa mensagem pastoral de Março de 2004 ao falar da “Nossa Esperança de Paz e Cabinda”: - “Não é nossa competência dizer que solução dar ao caso de Cabinda. Mas é competência nossa dizer que a guerra não deve ser solução nem caminho para chegar a ela”. (Angola no Caminho da Esperança nº 6).
Também hoje dizemos que a violência, mesmo verbal, não é caminho para chegar ao coração do outro (concórdia) nem solução para lhe conquistar o íntimo (confiança). Como Igreja, pautamos o nosso ser e agir em ser sinal da íntima união do homem com Deus e da união dos homens entre si, sem jamais perder de vista esta natureza e missão universal da Igreja, da qual Cristo é Cabeça e nós, não só membros seus mas também membros uns dos outros.
É neste contexto de Igreja que lamentamos profundamente a atitude inesperada e estranha dos nossos irmãos de Cabinda em recusarem a nomeação feita pelo Santo Padre ao prover de Pastor próprio esta Diocese irmã. Ao Santo Padre compete a inteira responsabilidade de criar novas Dioceses e de nomear para elas os seus Pastores. É normal na Igreja que o Bispo de qualquer Diocese seja oriundo duma Diocese diferente. Dos 17 Bispos que têm pastoreado as 17 Dioceses de Angola e S. Tomé, 14 são oriundos de Dioceses diferentes.
Não menos grave é que círculos alheios à fé cristã e católica queiram instrumentalizar e subordinar à política a própria autoridade da Santo Padre, Sucessor de Pedro.
A CEAST, que nas horas difíceis da nossa história sempre apelou ao diálogo como via segura de dirimir conflitos, lembra nesta hora a palavra que escutou do Santo Padre, em Outubro passado, a quando da Visita ad Limina Apostolorum: “A todos recordo que a violência não é capaz de resolver os problemas da humanidade, nem ajuda a superar os contrastes. É preciso ter a coragem do diálogo. Estou persuadido de que o esforço e a boa vontade das partes envolvidas nas questões em aberto podem ajudar a construir uma cultura de respeito e de dignidade” (disc. nº 3).

Luanda, 11 de Março de 2005

Os Bispos da CEAST





Militância Política (Nota Pastoral da CEAST)

NOTA PASTORAL
da
CONFERÊNCIA EPISCOPAL DE ANGOLA E S. TOMÉ


Militância política. Nalgumas localidades, sobretudo mais recuadas onde não abundam pessoas qualificadas para determinadas funções, tem-se feito aliciamento e até pressão sobre o Catequista para exercer funções de activista político nalgum Partido. Esta prática é totalmente reprovável e incompatível com a função de Catequista.
Com efeito, o Catequista, e com mais razão o Padre e o Bispo, é na comunidade não só o ministro do culto senão também o ministro de comunhão entre o Povo de Deus. Tornar-se militante dum Partido significa tornar-se adversário dos adeptos dos outros Partidos, o que resulta automaticamente na divisão da sua comunidade, tornando-se ministro não de comunhão mas de divisão. Portanto, a função de Catequista, como a de Padre ou de Bispo, é incompatível com a função de activista político.
Isto não significa que o Catequista, como o Padre, deixe de ter direitos políticos. De forma alguma. Nas eleições, ele há-de votar, como qualquer cidadão, no Partido da sua escolha. Enquanto responsável espiritual da comunidade, ele procura manter a harmonia entre os cristãos da mesma, os quais podem seguir os mais variados Partidos. Ora manter esta harmonia representa uma excelente forma de cidadania que o Catequista, da mesma forma que o Padre, desempenha em benefício da Comunidade.
Mas os outros cristãos, que não desempenham a função de catequista da Comunidade, esses, sim, podem e devem ter a coragem de assumir responsabilidades políticas no Partido da sua livre escolha, se tiverem vocação para isso. A militância política honestamente exercida é uma nobre forma de amor ao próximo.

Suspensão do culto dominical. Outro abuso que vimos denunciar e reprovar é a suspensão do culto dominical para, na hora dele, ter um comício com o povo. Já aconteceu chegar o Sacerdote ao bairro na hora da Missa, e encontrar o povo reunido num comício com o Soba ou com o Secretário do Partido.
Ora bem, o culto dominical é um direito e um dever dos crentes. Como direito, não pode ser violado por ninguém, e muito menos pela Autoridade local, a quem compete a função de proteger os direitos dos cidadãos, não de os violar; e se é um dever, a autoridade local, seja ela qual for, não tem poder para dele dispensar os crentes.
Por consequência, rogamos à Autoridade local que, para os comícios, jamais escolha a hora do culto, a qual deve ser respeitada pelo Catequista com pontualidade. E se teimar em fazê-lo, não pode levar a mal que os crentes faltem ao comício para irem ao culto, o que em consciência devem fazer.
Além disso, se quiserem rezar nos comícios, não deve ser o Catequista a dirigir a oração, mas outro crente livremente escolhido para isso.

Lugares de culto. Os lugares de culto devem ser completamente apartidários, não podendo servir para neles se fazer qualquer propaganda política, nem sequer aparente. Por conseguinte, rogamos aos fiéis a delicadeza de não irem ao culto com as insígnias do seu Partido. Mas reservem o seu uso para outros tempos e lugares.
Pela mesma razão, não se façam nos lugares de culto avisos de carácter político ou partidário, mas tão-somente de carácter religioso ou social, tais como campanhas de vacinação, matrícula de alunos, etc. Seja esta nota publicada e cumprida.

Luanda, 10 de Março de 2005
Os Bispos Católicos de Angola e São Tomé

Eucaristia e Família (Mensagem da CEAST)


EUCARISTIA E FAMILIA
(Mensagem Pastoral dos Bispos de Angola e São Tomé)
I. Ano da Eucaristia

1. No mês de Outubro de 2004, em coincidência com o Congresso Eucarístico Internacional de Guadalajara (México), teve início um especial “Ano da Eucaristia”, que terminará em Outubro de 2005 com a Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos, cujo tema será: “A Eucaristia: fonte e ápice da vida e da missão da Igreja”.
O Congresso Eucarístico apresentou-se como ocasião favorável para venerar, adorar, louvar, agradecer, rezar a Jesus Cristo presente entre nós na Eucaristia, sacramento do Seu amor.

2. O “Ano da Eucaristia” coloca-se no âmbito do projecto pastoral que o Santo Padre indicou na Carta Apostólica Novo millennio ineunte, na qual convidou os fiéis a “recomeçar a partir de Cristo” (nn. 29 ss). Contemplando assiduamente o rosto do Verbo Encarnado, realmente presente no Sacramento, os fiéis poderão exercitar-se na arte da oração (cf. n. 32) e comprometer-se naquela medida alta da vida cristã (cf. n. 31) que é condição indispensável para desenvolver de maneira eficaz a nova evangelização.

“Trata-se de conseguir que os fiéis se deixem conquistar por Cristo, aceitem depender radicalmente d’Ele, desejem viver a sua vida e segui-Lo pela estrada duma verdadeira santidade” (cf. 1 Ts 4, 3) – afirmava João Paulo II na mensagem aos Bispos da CEAST na última Visita ad limina (cf. n. 4).

3. A Igreja haure da Eucaristia as energias vitais para a sua presença e a sua acção na história dos homens. Na Eucaristia, Jesus demonstra-nos um amor levado até ao “extremo” (cf. Jo 13,1), um “amor sem medida” (Ecclesia de Eucharistia, 11). Um Amor que dá a própria vida pela vida do mundo, também do nosso mundo, do nosso milénio, de cada um de nós!

4. A Eucaristia, coração e ponto mais alto da vida da Igreja, torna-nos participantes do mesmo sacrifício de Cristo. Nela, Cristo oferece-se por nós, associa a Igreja com todos os seus membros ao seu sacrifício de louvor e de acção de graças, oferecido ao Pai uma vez por todas na Cruz. Por este sacrifício, Ele derrama as graças da salvação sobre o seu Corpo, que é a Igreja.

5. A Eucaristia é o memorial da Páscoa de Cristo, isto é, da obra da salvação realizada pela vida, Morte e Ressurreição de Cristo, obra tornada presente pela acção litúrgica.
Para a Igreja, este sumo Mistério é o dom por excelência de Cristo, porque é o “dom dele mesmo, da sua Pessoa na humanidade sagrada, e também da sua obra de salvação” (Ecclesia de Eucharistia, 11).
Diante da Eucaristia estamos na presença do próprio Cristo. É precisamente a sua presença que dá às dimensões de banquete, memorial da Páscoa, antecipação escatológica, próprias da Eucaristia, um significado que ultrapassa o de puro simbolismo (cf. Mane nobiscum Domine, 16).


6. É desejo do Santo Padre que, durante o Ano da Eucaristia, cada Comunidade diocesana renove publicamente o seu acto de fé em Jesus presente no Sacramento do Altar e inspire toda a sua vida e acção pastoral naquela espiritualidade eucarística que emerge de modo tão claro das memórias evangélicas. De facto, Cristo, que se ofereceu a si mesmo pela salvação da humanidade (cf Mc 10,45), quis perpetuar esta sua dedicação oblativa e sacrifical no Sacramento da Eucaristia (cf Lc 22,19-20). Para nós, cristãos, a Eucaristia é tudo; é o centro da fé e a fonte de toda a vida espiritual.

7. “Neste Ano da Eucaristia haja um empenho, por parte dos cristãos, de testemunhar com mais vigor a presença de Deus no mundo. Não tenhamos medo de falar de Deus e de ostentar sem vergonha os sinais da fé. A “cultura da Eucaristia” promove uma cultura do diálogo, que nela encontra força e alimento. É errado considerar que a referênca pública à fé possa ofender a justa autonomia do Estado e das instituições civis, ou então encorajar atitudes de intolerância” (Mane nobiscum Domine, 26).

Dada a inter-relação entre o banquete e o anúncio, o encontro com Cristo, continuamente aprofundado na intimidade eucarística, suscita na Igreja e em cada cristão o dever de fazer-se missionário do acontecimento que o rito actualiza, a urgência de testemunhar e evangelizar. A despedida no final de cada Missa constitui um mandato, que impele o cristão para o dever de propagação do Evangelho e de animação cristã da sociedade.
Daí o ser “necessário que cada fiel assimile, na meditação pessoal e comunitária, os valores que a Eucaristia exprime, as atitudes que ela inspira, os propósitos de vida que suscita” ( Ibidem, 25).

“Encarnar o projecto eucarístico na vida quotidiana, nos lugares onde se trabalha e vive – na família, na escola, na fábrica, nas mais diversas condições de vida – significa, para além do mais, testemunhar que a realidade humana não se justifica sem a referência ao Criador” ( Ibidem. 26).

II. O “Evangelho da Família”

8. A pessoa humana tem na sua estrutura natural uma dimensão social, porque no mais íntimo dela própria é chamada a viver em comunhão com os outros e a dar-se aos outros: “Deus, que cuida paternalmente de todos, quis que os homens formassem uma só família e se tratassem entre si com espírito de irmãos” (GS, 24).

A sociedade, fruto e sinal da sociabilidade do homem, manifesta a sua verdade plena quando se constitui em comunhão de pessoas.
Existe interdependência e reciprocidade entre a pessoa e a sociedade: tudo o que for feito em favor da pessoa é também serviço feito à sociedade, e tudo o que for realizado em favor da sociedade, reverte em benefício da pessoa.

9. A expressão primeira e originária da dimensão social da pessoa é o casal e a família: “Deus não criou o homem para o deixar sozinho; desde o princípio ‘criou‑os homem e mulher’ (Gn 1,27) e a sua união constitui a primeira expressão de comunhão de pessoas” (GS 12).
Jesus teve o cuidado de restituir ao casal a sua inteira dignidade (Mt 19,3-9) e à família a sua própria solidez (Mt 19, 4-6) e S. Paulo mostrou a relação profunda do matrimónio com o mistério de Cristo e da Igreja (Ef 5, 22-4,6; Col 3, 18-21; cf. 1Ped 3, 1-7).

10. O casal e a família constituem, pois, o primeiro espaço para o empenhamento social dos fiéis leigos. Trata-se de uma tarefa que só poderá ser desempenhada adequadamente na convicção do valor único e insubstituível da família para o progresso da sociedade e da própria Igreja.
O matrimónio e a família, que por sua natureza estão orientados para a prole, são a fonte insubstituível da sociedade civil, constituem a sua célula básica e assumem, por conseguinte, um interesse público.

11. Através das diferentes culturas, e durante os séculos, a família foi reconhecida como base indissolúvel da sociedade, como célula primordial da estrutura dos povos. A família fundada no matrimónio, isto é, numa união de amor e de vida entre um homem e uma mulher, no dom recíproco fiel e duradouro, aberto à vida, representa um bem comum da humanidade e de garantia da própria existência, como sociedade humana.

Pode-se falar, portanto, desta realidade familiar como de um património da humanidade, apoio do tecido social sadio, que permite um desenvolvimento humano dos povos. A proclamação e a defesa desta verdade não são apenas privilégio dos cristãos, mesmo se o facto de responder a um desígnio de Deus, depois da criação, ilumina, aprofunda e envolve o crente com grande vigor.

12. Berço da vida e do amor, onde o homem “nasce” e “cresce”, a família é a célula fundamental da sociedade. Deve dedicar-se a essa comunidade uma solicitude privilegiada, sobretudo quando o egoísmo humano, as campanhas contra a natalidade, as políticas totalitárias, e também as situações de pobreza e de miséria física, cultural e moral, bem como a mentalidade hedonista e consumista conseguem extinguir as fontes da vida, e onde as ideologias e os diversos sistemas, aliados a formas de desinteresse e de falta de amor, atentam contra a função educativa própria da família. Na verdade, densas são as ameaças à estabilidade e fecundidade da família, tentando marginalizar e esvaziar a família do seu peso social.
É urgente realizar uma acção vasta, profunda e sistemática, apoiada na cultura, nos meios económicos e nos instrumentos legislativos, destinada a assegurar à família a sua função de lugar primário da “humanização” da pessoa e da sociedade.

13. Difundir o “evangelho da família” ou anunciar a “maravilhosa notícia” da família, que mergulha as suas raízes no Coração de Deus Criador, constitui uma missão nobre e determinante.
Quem destrói este tecido fundamental da convivência humana, deixando de respeitar a sua identidade e desvirtuando as suas funções, causa uma ferida profunda na sociedade e provoca prejuízos não raro irreparáveis.

Na Exortação Apostólica “Familiaris Consortio” o Santo Padre salientou “o lugar especial que, neste campo, compete à missão dos cônjuges e das famílias cristãs, em virtude da graça recebida no sacramento”, e recordou que esta missão deve ser posta “ ao serviço da edificação da Igreja” e “da construção do reino de Deus na história” (n.71). Esta missão nada perdeu da sua actualidade mas, pelo contrário, adquiriu características de uma urgência extraordinária.

14. É importante a rica experiência das famílias, de maneira particular quando o “nós” dos pais, do marido e da mulher, se desenvolve por intermédio da geração e da educação, no “nós” da família, com a dádiva extremamente preciosa dos filhos (Carta às Famílias, 16). É desta forma que, num clima de colaboração, se edifica a igreja doméstica, santuário da vida e verdadeira coluna principal para o futuro da humanidade.

15. A promoção da dignidade da pessoa, da familia, da escola e a salvaguarda dos direitos e dos interesses morais, espirituais e culturais dos cidadãos constituem um serviço precioso prestado à comunidade cristã e à sociedade civil pela Igreja.
Como a experiência ensina, a civilização e a solidez dos povos dependem sobretudo da qualidade humana das próprias famílias. Assim, a acção apostólica em favor da família adquire incomparável valor social. A Igreja, por seu turno, está disso profundamente convencida, bem sabendo que o “futuro da humanidade passa através da família” (FC 85).

16. A acção apostólica dos fiéis leigos consiste, antes de mais, em tornar a família consciente da sua identidade de primeiro núcleo social de base e do seu papel primordial na sociedade, para que a própria família se torne cada vez mais protagonista activa e responsável do seu crescimento e da sua participação na vida social. Desta forma a família poderá e deverá exigir de todos, a começar pelas autoridades públicas, o respeito por aqueles direitos que, salvando a família, salvam a sociedade.


Crise moral e espiritual da família em Angola e S. Tomé

17. Em Angola e S. Tomé, estamos a assistir a uma degradação da família e a comportamentos e propostas que põem em risco não só a verdade e a dignidade da pessoa humana como também a identidade do matrimónio e da família: ganha cada vez mais terreno a poligamia, o amigamento, a prostituição; o namoro e o noivado já não são momentos de caminhada para o matrimónio, mas sim de experiência de relações pré-matrimoniais; verificam-se faltas gritantes de fidelidade; faltas de compromisso e de responsabilidade dos pais; o flagelo do divórcio que em nada edifica a comunidade dos crentes; a mentalidade feiticista instalada no seio das famílias.

“Várias destas actividades imorais levam à propagação do HIV/SIDA, uma epidemia que não pode ser ignorada pelas inúmeras vítimas ceifadas e pela grave ameaça que constitui para a estabilidade social e económica da nação” (João Paulo II, Mensagem aos Bispos da CEAST em Visita ad limina, 5). Para além disso, impedem muitos dos baptizados das nossas comunidades de abeirar-se frutuosamente da Eucaristia (Carta enc. Ecclesia de Eucharistia, 37)

18. No quotidiano, registram-se factos que inquietam e perturbam a qualidade de vida de muitas famílias: a falta de preparação e de formação contínua para se formar e ser família; a recusa em aceitar compromissos; a recusa em perdoar as faltas, pondo em grande risco a relação intraconjugal; a pressão mediática exercida sobre as famílias, que as leva a aceitar o divórcio como uma solução e a não encontrar a solução da mediação dos conflitos; a promoção generalizada de uma mentalidade contraceptiva e pró-aborto; a precariedade do trabalho, que gera a instabilidade intrafamiliar; a permissividade imposta como modelo e a demissão de toda a autoridade, a começar pelo modo como muitos pais vivem o exercício da paternidade/maternidade.


19. Com efeito, a família contemporânea está a sofrer rudes golpes que a tornam frágil e fragilizadora. Vivemos “num momento histórico em que a família é objecto de numerosas forças que procuram destruí-la ou, de qualquer forma, deformá-la” (FC, 3). Trata-se de uma crise moral e espiritual, uma crise dos valores: uma cultura hedonista e relativista que ameaça a indissolubilidade do matrimónio, a unidade da família e o acolhimento da vida. Uma cultura do prazer que corre o risco de levar a conceber a mulher como um objecto, os filhos como um obstáculo para os pais, a família como uma instituição incómoda para a liberdade. Quem paga as consequências da actual crise são os filhos, que se vêem desprovidos daquele clima de serenidade, de amor e de comunhão, próprio de cada comunidade familiar. Contudo, os seus reflexos negativos projectam-se sobre todo o tecido social, gerando, não raro, perigosas frustrações, tensões e até mesmo violências.

20. A par destas sombras, é preciso, todavia assinalar “o testemunho oferecido por inúmeras famílias que vivem de maneira heróica a fidelidade ao sacramento do matrimónio cristão, no contexto duma legislação civil ou de costumes tradicionais pouco favoráveis ao matrimónio monogâmico” (João Paulo II, Mensagem aos Bispos da CEAST em Visita ad limina, 5).

Por tudo isso, é necessário maior dinamismo na Pastoral familiar; uma Pastoral familiar definida e diferenciada; uma formação de especialistas para a Pastoral familiar; criação de instituições de formação para os Leigos.

“É urgente promover a educação permanente dos vossos fiéis na fé, sobretudo de famílias autênticas que vivam segundo o desígnio de Deus, em ordem à missão que lhes corresponde nos diversos âmbitos da vida social do País” (Cardeal Sepe, discurso aos membros da CEAST, aos 25.10.2002).

21. É claro que não se pode pedir ao Estado que assuma e faça própria a visão espiritual cristã da família como comunidade de amor e de salvação; esse é o ideal cristão da santidade, radicado no baptismo e, através dele, em Cristo ressuscitado, que compete à Igreja não impôr, mas sim propor e oferecer a possibilidade de conhecer a exaltante beleza da sua mística e a surpreendente alegria da sua vivência.
A proposta eclesial do casamento, como caminho de santidade cristã, é uma missão da Igreja. A família cristã é chamada a tornar-se uma comunidade santa. Não apenas cada membro da família é chamado à santidade, mas também a família como tal é chamada à santidade. Todos contribuem para a mútua santificação.

22. O matrimónio, particularmente quando sacramento, e a família que dele deriva, são em primeiro lugar um “grande mistério” de amor, porque neles se exprime o amor esponsal de Cristo pela sua Igreja. Por conseguinte, a vocação da família é o amor. Portanto, o amor entre os pais e entre eles e os seus filhos não é imposto por ninguém, mas é uma exigência intrínseca do próprio matrimónio cristão. Deus, que é amor, inscreveu no coração do homem e da mulher essa capacidade e responsabilidade que é a vocação para amar (cf. FC, 11).

23. Mistério de amor, a família é, outrossim, um sublime mistério de comunhão interpessoal. Em África comprovámo-lo sobretudo lá onde a família alargada conserva o seu valor e sentido. Para além do amor dos cônjuges entre si, formando “uma só carne”, e destes para com seus filhos, conhecemos a preocupação dos avós pelos netos, a influência dos tios nas decisões dos sobrinhos, ou a alegria dos irmãos que acarretam os pesos uns dos outros. A comunhão entre todos esses membros da família faz dela uma verdadeira comunidade cristã, imagem, na terra, da própria vida de comunhão de Deus Uno e Trino.

Nesta comunidade de amor se aprendem e se entrelaçam muitos tipos de amor: amor conjugal, paterno, materno, filial e fraterno. Está na família cristã um futuro novo para Angola (cf. EIA, 85).


24.Na origem da crise da família e dos seus numerosos problemas existe, sem dúvida, uma ruptura entre o Evangelho e a cultura. Portanto, para ultrapassar esta crise é urgente evangelizar a cultura ou as culturas. Se elas forem regeneradas pela força transformadora do Evangelho, a família “remontará ao princípio” e voltará a encontrar a sua própria identidade de comunidade de pessoas vivificadas pelo amor de Cristo, animada pelo seu Espírito.

25. Mas é sobretudo na Eucaristia que a família cristã há-de encontrar tudo aquilo de que tem necessidade para superar todas as dificuldades, para ser sempre fiel a si mesma e à sua missão. Por conseguinte, a Eucaristia deve estar no centro de toda a vida familiar.

III. Relação Eucaristia-Família


26. Com efeito, existem muitos vínculos entre a Eucaristia e a Família.

Cristo instituiu a Eucaristia num contexto familiar, na última Ceia, à volta de uma mesa. E proclamou a verdade divina sobre o matrimónio, participando nas núpcias de Caná da Galileia e realizando aí o seu primeiro “sinal”: a água que se transforma em vinho (cf. Jo 2, 1-10).

27. A Eucaristia é o memorial da Aliança de Cristo com a Igreja, sua Esposa: uma Aliança nova e eterna, ou seja, irrevogável; uma Aliança da qual nasce a união entre os esposos cristãos; uma Aliança que forma a partir de dentro e vivifica continuamente esta última. A aliança matrimonial, pela qual um homem e uma mulher constituem entre si uma comunidade de vida e de amor, foi fundada e dotada das suas leis próprias pelo Criador. Por sua natureza, ordena-se ao bem dos cônjuges, bem como à procriação e educação dos filhos. Entre os baptizados, foi elevada por Cristo Senhor à dignidade de sacramento (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1660).

28. A Eucaristia é a máxima e mais sublime expressão do amor de Cristo pela sua Igreja. O sacramento do Matrimónio é sinal da união de Cristo e da Igreja. Confere aos esposos a graça de se amarem com o amor com que Cristo amou a sua Igreja; a graça do sacramento aperfeiçoa assim o amor humano dos esposos, dá firmeza à sua unidade indissolúvel e santifica-os no caminho da vida eterna (cf. Ibidem, n. 1661).

É nesta unidade indissolúvel que reside a estabilidade do lar, condição absoluta para a educação dos filhos e a verdadeira felicidade da família. Mas tudo isto fica ameaçado quando a unidade indissolúvel do sacramento é substituída pela irresponsabilidade do amigamento, pelo hedonismo da poligamia, pelo fracasso do divórcio, ou mesmo pela traição do adultério.

29. Como sacramento do amor, a Eucaristia é também, e por isso mesmo, o sacramento da unidade e da comunhão: comunhão hierárquica e comunhão fraterna (cf. Mane nobiscum Domine, 21). A Igreja é una, porque una é a Eucaristia. O Pão eucarístico faz de todos aqueles que o comem um só Corpo. Como fonte da unidade, da comunhão da Igreja e sua máxima manifestação, a Eucaristia é também nascente da unidade e da comunhão da “igreja doméstica”: a família. A unidade, a indissolubilidade e a abertura à fecundidade são essenciais ao Matrimónio. A poligamia é incompatível com a unidade do Matrimónio; o divórcio separa o que Deus uniu; a recusa da fecundidade desvia a vida conjugal do seu “dom mais excelente” (GS 50, 1, citado pelo Catecismo da Igreja Católica, n.1664).

30. Enfim, como “fonte e ponto culminante de toda a evangelização” (PO 5), a Eucaristia é o manancial daquele dinamismo missionário que deve animar toda a família cristã. O lar cristão é o lugar onde os filhos recebem o primeiro anúncio da fé. É por isso que a casa de família se chama, com razão, “a igreja doméstica”, comunidade de graça e de oração, escola de virtudes humanas e de caridade cristã (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1666).

31. A Eucaristia é, pois, necessária para a família cristã. É o seu centro indispensável. Mistério de luz, ela é a fonte da luz e da energia interior, de que a família tem necessidade para ser fiel, apesar dos inúmeros desafios e dificuldades, ao desígnio eterno de Deus.
Como modelo incomparável desta fidelidade ao plano de Deus, a Igreja propõe-nos a Sagrada Família.

32. Apesar de tudo, entre ‘luzes e sombras’, na família reside o futuro da humanidade. Assim, as famílias queiram ser motores e agentes privilegiados da mudança que se impõe. Delas dependem as alterações sócio-culturais que urge promover para o seu respeito.
Vêm a propósito as palavras de João Paulo II aos Bispos da CEAST: “Fazendo tudo o que está ao vosso alcance, queridos Bispos, para defender a santidade da família e o lugar prioritário que ela ocupa no seio da sociedade, não deixeis de proclamar em voz alta e clara a mensagem libertadora do amor cristão autêntico” (Mensagem na Visita ad limina, n.5).

33. O que se pretende com a pastoral familiar neste Ano da Eucaristia é fazer com que as famílias cristãs sejam cada vez mais fascinadas pelo ideal evangélico do matrimónio e da família, que se tornem comunidades cada vez mais vivas, feitas de fé e de oração, de obediência dócil à vontade divina e de profunda disponibilidade aos irmãos. Desta maneira elas tornar-se-ão o autêntico fermento de uma nova humanidade, de uma Angola nova.

IV. Orientações Pastorais

34. “A pastoral sacramental e litúrgica, a formação catequética, bíblica e teológica, as diversas expressões artísticas e musicais, e ainda os vários meios de comunicação sociais tradicionais ou modernos: tudo deve servir para que os crentes assimilem e vivam as riquezas da sua fé a fim de participar de forma plena na vida da respectiva comunidade eclesial” (João Paulo II aos Bispos da CEAST em Visita ad limina, n. 4).

A fim de celebrar o Ano da Eucaristia, propomos estas orientações práticas:
Para conhecer melhor a Eucaristia:
a) Nos retiros mensais, exponham-se temas eucarísticos;
b) Nas homilias, explique-se a santa Missa: símbolos, consagração, comunhão, e outras partes importantes;
c) Sendo também o Ano da Bíblia, façam-se estudos bíblicos sobre a Eucaristia
d) Organizem-se concursos de poesias eucarísticas.

Para melhor vivência da Eucaristia:
a) Promova-se maior frequência da sagrada comunhão, sobretudo ao domingo;
b) Estimulem-se as famílias a participar e a acompanhar a preparação dos seus filhos para a 1ª comunhão;
c) Facilite-se o casamento dos amigados, para poderem comungar;
d) Fomente-se a espiritualidade eucarística, com a adoração, visita ao Santíssimo, comunhão espiritual, etc.
e) Sobretudo “neste ano, seja vivida com particular fervor a solenidade do ‘Corpus Domini’ com a tradicional procissão” (Mane nobiscum Domine, 18).

35. A Virgem Maria, “Mulher eucarística” (cf. Ecclesia de Eucharistia, 53-58), que no Ano do Rosário nos ajudou a contemplar Cristo com o seu olhar e com o seu coração (cf. Rosarium Virginis Mariae, 10-17), faça crescer, no Ano da Eucaristia, todas as nossas famílias e comunidades cristãs na fé e no amor ao mistério do Corpo e do Sangue do Senhor.

Que a Virgem Imaculada, “primeiro tabernáculo da história” (Ecclesia de Eucharistia, 53) e ostensório vivo de Jesus, nos ajude a construir uma Angola onde a vida do homem seja sempre amada e defendida e, eliminada toda a forma de violência, a paz seja por todos tenazmente procurada e preservada.

Luanda, 11 de Março de 2005

Os Bispos Católicos de Angola e S. Tomé



segunda-feira, março 07, 2005

Conclusões do II Congresso Pro Pace

II CONGRESSO PRO PACE – CONSTRUTORES DE DEMOCRACIA
Luanda, 2-6 Março 2005
CONCLUSÕES


No auditório da UNIVERSIDADE CATÓLICA, Luanda, teve lugar, no dia 2 de Março de 2005, sob a presidência de sua Eminência D. Alexandre do Nascimento, a abertura do II CONGRESSO PRO PACE, subordinado ao lema CONSTRUTORES DE DEMOCRACIA.
E hoje, 6 de Março do mesmo mês e ano, neste Pavilhão Gimno-Desportivo da Cidadela, sob a presidência de Sua Eminência o Sr. Cardeal Renato Rafael Martino, Presidente do Pontifício Conselho JUSTIÇA E PAZ, procedemos ao encerramento do mesmo Congresso, com a leitura das conclusões, elaboradas sobre os trabalhos apresentados no decorrer das sessões.

1. Democracia e Desenvolvimento. Em ordem a uma crescente estabilidade política e económica, que estimule os investidores e o desenvolvimento, sejam cada vez mais fortalecidos os mecanismos da nossa democracia, proporcionando a todos os cidadãos as mesmas oportunidades, com pleno respeito pelas suas respectivas liberdades fundamentais.
E para que a reabilitação do nosso País bem como o seu desenvolvimento não sofram constrangimentos indesejáveis, saudamos todo o apoio possível da Comunidade internacional, que nos ajude nesta hora crucial.

2. Direitos Humanos e Democracia. Seja garantida, em toda a parte, a vigilância e a defesa dos direitos humanos, com especial atenção para o direito à saúde e à reputação, mormente de velhos, mulheres e crianças.
Para tanto, urge proscrever radicalmente a profissão daqueles que, com suas falazes adivinhações, põem em risco a segurança e a vida dos citados velhos, mulheres e crianças.

3. Eleições e Democracia. Para as eleições serem livres e justas, sejam também esclarecidas. E para serem esclarecidas, facilite-se a todos os cidadãos, mesmo das zonas mais remotas, o acesso ao conhecimento dos diversos Partidos e seus programas.
Pela mesma razão, os eleitores jamais sejam condicionados, de forma alguma, nem por pressões, nem por intimidações, nem por aliciamentos indevidos.
Além disso, sejam criados mecanismos adequados que não deixem margem a possíveis fraudes. E se algumas destas acontecerem, sejam submetidas a Tribunal credível que as julgue e sancione.

4. Alternância do Poder e Democracia. Importa sobremaneira mentalizar os Partidos para a hipotética alternância do poder, de tal maneira que o resultado das eleições, uma vez verificada a sua legitimidade, seja aceito por todos com dignidade, sem contestações infundadas.

5. Oposição e Democracia. Os Partidos concorram às eleições com verdadeiro espírito patriótico, colocando o bem nacional por cima do partidário, sabendo ganhar com modéstia e perder sem frustração.
Em eleições democráticas, ninguém perde absolutamente, nem os que ficam na oposição, a qual constitui um cargo insubstituível em qualquer regime democrático.

6. Liberdade de Imprensa e Democracia. O direito à liberdade de expressão tem duas vertentes: a primeira, é o direito de manifestar a sua opinião por meios públicos sobre assuntos públicos que lhe dizem respeito; a segunda, é ser informado sobre as diversas opiniões acerca dos mesmos assuntos.
Daqui a exigência da liberalização dos meios de comunicação social, entre os quais os participantes insistem que a Rádio ECCLESIA seja ouvida, quanto antes, em todas as Dioceses ou Províncias.

7. Cidadania e Democracia. Todos os cidadãos têm o direito e o dever de exercer a sua cidadania, participando, cada qual a seu modo, na vida pública. Um dos modos mais expressivos de exercer essa cidadania é a prática da votação eleitoral, especialmente se for autárquica.
Então, na perspectiva das eleições nacionais que se aproximam, urge possibilitar as vias de acesso de tal maneira que, por falta desta condição, nenhum cidadão fique impedido de votar.

8. Unidade e Pluralidade. Os meios de comunicação social bem como quaisquer outros meios de comunicação sejam mensageiros da unidade na pluralidade, de forma a criar na consciência de todos os cidadãos um profundo sentimento de comunhão e amor fraternos, numa Pátria multiforme mas una e coesa.

9. Doutrina Social da Igreja. Para melhor realizar todo este ambicioso projecto, fazemos votos porque se difunda, no meio de nós, a Doutrina Social da Igreja, cuja edição brevemente estará disponível em língua portuguesa.

10. Congressos Diocesanos. Finalmente, pedimos a quem de direito que este Congresso se repita, em tempo oportuno, nas próprias diocese ou Províncias.

Luanda, 6 de Março de 2005

quinta-feira, março 03, 2005

II Congresso Pro Pace

Hoje no Congresso falaram Dra Teresa Cohen e Bornito de Sousa.
Houve trabalhos de grupos pela manhã e pela tarde.

pro pace

A conferencia dos Bispos de An....