sexta-feira, março 11, 2005

Eucaristia e Família (Mensagem da CEAST)


EUCARISTIA E FAMILIA
(Mensagem Pastoral dos Bispos de Angola e São Tomé)
I. Ano da Eucaristia

1. No mês de Outubro de 2004, em coincidência com o Congresso Eucarístico Internacional de Guadalajara (México), teve início um especial “Ano da Eucaristia”, que terminará em Outubro de 2005 com a Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos, cujo tema será: “A Eucaristia: fonte e ápice da vida e da missão da Igreja”.
O Congresso Eucarístico apresentou-se como ocasião favorável para venerar, adorar, louvar, agradecer, rezar a Jesus Cristo presente entre nós na Eucaristia, sacramento do Seu amor.

2. O “Ano da Eucaristia” coloca-se no âmbito do projecto pastoral que o Santo Padre indicou na Carta Apostólica Novo millennio ineunte, na qual convidou os fiéis a “recomeçar a partir de Cristo” (nn. 29 ss). Contemplando assiduamente o rosto do Verbo Encarnado, realmente presente no Sacramento, os fiéis poderão exercitar-se na arte da oração (cf. n. 32) e comprometer-se naquela medida alta da vida cristã (cf. n. 31) que é condição indispensável para desenvolver de maneira eficaz a nova evangelização.

“Trata-se de conseguir que os fiéis se deixem conquistar por Cristo, aceitem depender radicalmente d’Ele, desejem viver a sua vida e segui-Lo pela estrada duma verdadeira santidade” (cf. 1 Ts 4, 3) – afirmava João Paulo II na mensagem aos Bispos da CEAST na última Visita ad limina (cf. n. 4).

3. A Igreja haure da Eucaristia as energias vitais para a sua presença e a sua acção na história dos homens. Na Eucaristia, Jesus demonstra-nos um amor levado até ao “extremo” (cf. Jo 13,1), um “amor sem medida” (Ecclesia de Eucharistia, 11). Um Amor que dá a própria vida pela vida do mundo, também do nosso mundo, do nosso milénio, de cada um de nós!

4. A Eucaristia, coração e ponto mais alto da vida da Igreja, torna-nos participantes do mesmo sacrifício de Cristo. Nela, Cristo oferece-se por nós, associa a Igreja com todos os seus membros ao seu sacrifício de louvor e de acção de graças, oferecido ao Pai uma vez por todas na Cruz. Por este sacrifício, Ele derrama as graças da salvação sobre o seu Corpo, que é a Igreja.

5. A Eucaristia é o memorial da Páscoa de Cristo, isto é, da obra da salvação realizada pela vida, Morte e Ressurreição de Cristo, obra tornada presente pela acção litúrgica.
Para a Igreja, este sumo Mistério é o dom por excelência de Cristo, porque é o “dom dele mesmo, da sua Pessoa na humanidade sagrada, e também da sua obra de salvação” (Ecclesia de Eucharistia, 11).
Diante da Eucaristia estamos na presença do próprio Cristo. É precisamente a sua presença que dá às dimensões de banquete, memorial da Páscoa, antecipação escatológica, próprias da Eucaristia, um significado que ultrapassa o de puro simbolismo (cf. Mane nobiscum Domine, 16).


6. É desejo do Santo Padre que, durante o Ano da Eucaristia, cada Comunidade diocesana renove publicamente o seu acto de fé em Jesus presente no Sacramento do Altar e inspire toda a sua vida e acção pastoral naquela espiritualidade eucarística que emerge de modo tão claro das memórias evangélicas. De facto, Cristo, que se ofereceu a si mesmo pela salvação da humanidade (cf Mc 10,45), quis perpetuar esta sua dedicação oblativa e sacrifical no Sacramento da Eucaristia (cf Lc 22,19-20). Para nós, cristãos, a Eucaristia é tudo; é o centro da fé e a fonte de toda a vida espiritual.

7. “Neste Ano da Eucaristia haja um empenho, por parte dos cristãos, de testemunhar com mais vigor a presença de Deus no mundo. Não tenhamos medo de falar de Deus e de ostentar sem vergonha os sinais da fé. A “cultura da Eucaristia” promove uma cultura do diálogo, que nela encontra força e alimento. É errado considerar que a referênca pública à fé possa ofender a justa autonomia do Estado e das instituições civis, ou então encorajar atitudes de intolerância” (Mane nobiscum Domine, 26).

Dada a inter-relação entre o banquete e o anúncio, o encontro com Cristo, continuamente aprofundado na intimidade eucarística, suscita na Igreja e em cada cristão o dever de fazer-se missionário do acontecimento que o rito actualiza, a urgência de testemunhar e evangelizar. A despedida no final de cada Missa constitui um mandato, que impele o cristão para o dever de propagação do Evangelho e de animação cristã da sociedade.
Daí o ser “necessário que cada fiel assimile, na meditação pessoal e comunitária, os valores que a Eucaristia exprime, as atitudes que ela inspira, os propósitos de vida que suscita” ( Ibidem, 25).

“Encarnar o projecto eucarístico na vida quotidiana, nos lugares onde se trabalha e vive – na família, na escola, na fábrica, nas mais diversas condições de vida – significa, para além do mais, testemunhar que a realidade humana não se justifica sem a referência ao Criador” ( Ibidem. 26).

II. O “Evangelho da Família”

8. A pessoa humana tem na sua estrutura natural uma dimensão social, porque no mais íntimo dela própria é chamada a viver em comunhão com os outros e a dar-se aos outros: “Deus, que cuida paternalmente de todos, quis que os homens formassem uma só família e se tratassem entre si com espírito de irmãos” (GS, 24).

A sociedade, fruto e sinal da sociabilidade do homem, manifesta a sua verdade plena quando se constitui em comunhão de pessoas.
Existe interdependência e reciprocidade entre a pessoa e a sociedade: tudo o que for feito em favor da pessoa é também serviço feito à sociedade, e tudo o que for realizado em favor da sociedade, reverte em benefício da pessoa.

9. A expressão primeira e originária da dimensão social da pessoa é o casal e a família: “Deus não criou o homem para o deixar sozinho; desde o princípio ‘criou‑os homem e mulher’ (Gn 1,27) e a sua união constitui a primeira expressão de comunhão de pessoas” (GS 12).
Jesus teve o cuidado de restituir ao casal a sua inteira dignidade (Mt 19,3-9) e à família a sua própria solidez (Mt 19, 4-6) e S. Paulo mostrou a relação profunda do matrimónio com o mistério de Cristo e da Igreja (Ef 5, 22-4,6; Col 3, 18-21; cf. 1Ped 3, 1-7).

10. O casal e a família constituem, pois, o primeiro espaço para o empenhamento social dos fiéis leigos. Trata-se de uma tarefa que só poderá ser desempenhada adequadamente na convicção do valor único e insubstituível da família para o progresso da sociedade e da própria Igreja.
O matrimónio e a família, que por sua natureza estão orientados para a prole, são a fonte insubstituível da sociedade civil, constituem a sua célula básica e assumem, por conseguinte, um interesse público.

11. Através das diferentes culturas, e durante os séculos, a família foi reconhecida como base indissolúvel da sociedade, como célula primordial da estrutura dos povos. A família fundada no matrimónio, isto é, numa união de amor e de vida entre um homem e uma mulher, no dom recíproco fiel e duradouro, aberto à vida, representa um bem comum da humanidade e de garantia da própria existência, como sociedade humana.

Pode-se falar, portanto, desta realidade familiar como de um património da humanidade, apoio do tecido social sadio, que permite um desenvolvimento humano dos povos. A proclamação e a defesa desta verdade não são apenas privilégio dos cristãos, mesmo se o facto de responder a um desígnio de Deus, depois da criação, ilumina, aprofunda e envolve o crente com grande vigor.

12. Berço da vida e do amor, onde o homem “nasce” e “cresce”, a família é a célula fundamental da sociedade. Deve dedicar-se a essa comunidade uma solicitude privilegiada, sobretudo quando o egoísmo humano, as campanhas contra a natalidade, as políticas totalitárias, e também as situações de pobreza e de miséria física, cultural e moral, bem como a mentalidade hedonista e consumista conseguem extinguir as fontes da vida, e onde as ideologias e os diversos sistemas, aliados a formas de desinteresse e de falta de amor, atentam contra a função educativa própria da família. Na verdade, densas são as ameaças à estabilidade e fecundidade da família, tentando marginalizar e esvaziar a família do seu peso social.
É urgente realizar uma acção vasta, profunda e sistemática, apoiada na cultura, nos meios económicos e nos instrumentos legislativos, destinada a assegurar à família a sua função de lugar primário da “humanização” da pessoa e da sociedade.

13. Difundir o “evangelho da família” ou anunciar a “maravilhosa notícia” da família, que mergulha as suas raízes no Coração de Deus Criador, constitui uma missão nobre e determinante.
Quem destrói este tecido fundamental da convivência humana, deixando de respeitar a sua identidade e desvirtuando as suas funções, causa uma ferida profunda na sociedade e provoca prejuízos não raro irreparáveis.

Na Exortação Apostólica “Familiaris Consortio” o Santo Padre salientou “o lugar especial que, neste campo, compete à missão dos cônjuges e das famílias cristãs, em virtude da graça recebida no sacramento”, e recordou que esta missão deve ser posta “ ao serviço da edificação da Igreja” e “da construção do reino de Deus na história” (n.71). Esta missão nada perdeu da sua actualidade mas, pelo contrário, adquiriu características de uma urgência extraordinária.

14. É importante a rica experiência das famílias, de maneira particular quando o “nós” dos pais, do marido e da mulher, se desenvolve por intermédio da geração e da educação, no “nós” da família, com a dádiva extremamente preciosa dos filhos (Carta às Famílias, 16). É desta forma que, num clima de colaboração, se edifica a igreja doméstica, santuário da vida e verdadeira coluna principal para o futuro da humanidade.

15. A promoção da dignidade da pessoa, da familia, da escola e a salvaguarda dos direitos e dos interesses morais, espirituais e culturais dos cidadãos constituem um serviço precioso prestado à comunidade cristã e à sociedade civil pela Igreja.
Como a experiência ensina, a civilização e a solidez dos povos dependem sobretudo da qualidade humana das próprias famílias. Assim, a acção apostólica em favor da família adquire incomparável valor social. A Igreja, por seu turno, está disso profundamente convencida, bem sabendo que o “futuro da humanidade passa através da família” (FC 85).

16. A acção apostólica dos fiéis leigos consiste, antes de mais, em tornar a família consciente da sua identidade de primeiro núcleo social de base e do seu papel primordial na sociedade, para que a própria família se torne cada vez mais protagonista activa e responsável do seu crescimento e da sua participação na vida social. Desta forma a família poderá e deverá exigir de todos, a começar pelas autoridades públicas, o respeito por aqueles direitos que, salvando a família, salvam a sociedade.


Crise moral e espiritual da família em Angola e S. Tomé

17. Em Angola e S. Tomé, estamos a assistir a uma degradação da família e a comportamentos e propostas que põem em risco não só a verdade e a dignidade da pessoa humana como também a identidade do matrimónio e da família: ganha cada vez mais terreno a poligamia, o amigamento, a prostituição; o namoro e o noivado já não são momentos de caminhada para o matrimónio, mas sim de experiência de relações pré-matrimoniais; verificam-se faltas gritantes de fidelidade; faltas de compromisso e de responsabilidade dos pais; o flagelo do divórcio que em nada edifica a comunidade dos crentes; a mentalidade feiticista instalada no seio das famílias.

“Várias destas actividades imorais levam à propagação do HIV/SIDA, uma epidemia que não pode ser ignorada pelas inúmeras vítimas ceifadas e pela grave ameaça que constitui para a estabilidade social e económica da nação” (João Paulo II, Mensagem aos Bispos da CEAST em Visita ad limina, 5). Para além disso, impedem muitos dos baptizados das nossas comunidades de abeirar-se frutuosamente da Eucaristia (Carta enc. Ecclesia de Eucharistia, 37)

18. No quotidiano, registram-se factos que inquietam e perturbam a qualidade de vida de muitas famílias: a falta de preparação e de formação contínua para se formar e ser família; a recusa em aceitar compromissos; a recusa em perdoar as faltas, pondo em grande risco a relação intraconjugal; a pressão mediática exercida sobre as famílias, que as leva a aceitar o divórcio como uma solução e a não encontrar a solução da mediação dos conflitos; a promoção generalizada de uma mentalidade contraceptiva e pró-aborto; a precariedade do trabalho, que gera a instabilidade intrafamiliar; a permissividade imposta como modelo e a demissão de toda a autoridade, a começar pelo modo como muitos pais vivem o exercício da paternidade/maternidade.


19. Com efeito, a família contemporânea está a sofrer rudes golpes que a tornam frágil e fragilizadora. Vivemos “num momento histórico em que a família é objecto de numerosas forças que procuram destruí-la ou, de qualquer forma, deformá-la” (FC, 3). Trata-se de uma crise moral e espiritual, uma crise dos valores: uma cultura hedonista e relativista que ameaça a indissolubilidade do matrimónio, a unidade da família e o acolhimento da vida. Uma cultura do prazer que corre o risco de levar a conceber a mulher como um objecto, os filhos como um obstáculo para os pais, a família como uma instituição incómoda para a liberdade. Quem paga as consequências da actual crise são os filhos, que se vêem desprovidos daquele clima de serenidade, de amor e de comunhão, próprio de cada comunidade familiar. Contudo, os seus reflexos negativos projectam-se sobre todo o tecido social, gerando, não raro, perigosas frustrações, tensões e até mesmo violências.

20. A par destas sombras, é preciso, todavia assinalar “o testemunho oferecido por inúmeras famílias que vivem de maneira heróica a fidelidade ao sacramento do matrimónio cristão, no contexto duma legislação civil ou de costumes tradicionais pouco favoráveis ao matrimónio monogâmico” (João Paulo II, Mensagem aos Bispos da CEAST em Visita ad limina, 5).

Por tudo isso, é necessário maior dinamismo na Pastoral familiar; uma Pastoral familiar definida e diferenciada; uma formação de especialistas para a Pastoral familiar; criação de instituições de formação para os Leigos.

“É urgente promover a educação permanente dos vossos fiéis na fé, sobretudo de famílias autênticas que vivam segundo o desígnio de Deus, em ordem à missão que lhes corresponde nos diversos âmbitos da vida social do País” (Cardeal Sepe, discurso aos membros da CEAST, aos 25.10.2002).

21. É claro que não se pode pedir ao Estado que assuma e faça própria a visão espiritual cristã da família como comunidade de amor e de salvação; esse é o ideal cristão da santidade, radicado no baptismo e, através dele, em Cristo ressuscitado, que compete à Igreja não impôr, mas sim propor e oferecer a possibilidade de conhecer a exaltante beleza da sua mística e a surpreendente alegria da sua vivência.
A proposta eclesial do casamento, como caminho de santidade cristã, é uma missão da Igreja. A família cristã é chamada a tornar-se uma comunidade santa. Não apenas cada membro da família é chamado à santidade, mas também a família como tal é chamada à santidade. Todos contribuem para a mútua santificação.

22. O matrimónio, particularmente quando sacramento, e a família que dele deriva, são em primeiro lugar um “grande mistério” de amor, porque neles se exprime o amor esponsal de Cristo pela sua Igreja. Por conseguinte, a vocação da família é o amor. Portanto, o amor entre os pais e entre eles e os seus filhos não é imposto por ninguém, mas é uma exigência intrínseca do próprio matrimónio cristão. Deus, que é amor, inscreveu no coração do homem e da mulher essa capacidade e responsabilidade que é a vocação para amar (cf. FC, 11).

23. Mistério de amor, a família é, outrossim, um sublime mistério de comunhão interpessoal. Em África comprovámo-lo sobretudo lá onde a família alargada conserva o seu valor e sentido. Para além do amor dos cônjuges entre si, formando “uma só carne”, e destes para com seus filhos, conhecemos a preocupação dos avós pelos netos, a influência dos tios nas decisões dos sobrinhos, ou a alegria dos irmãos que acarretam os pesos uns dos outros. A comunhão entre todos esses membros da família faz dela uma verdadeira comunidade cristã, imagem, na terra, da própria vida de comunhão de Deus Uno e Trino.

Nesta comunidade de amor se aprendem e se entrelaçam muitos tipos de amor: amor conjugal, paterno, materno, filial e fraterno. Está na família cristã um futuro novo para Angola (cf. EIA, 85).


24.Na origem da crise da família e dos seus numerosos problemas existe, sem dúvida, uma ruptura entre o Evangelho e a cultura. Portanto, para ultrapassar esta crise é urgente evangelizar a cultura ou as culturas. Se elas forem regeneradas pela força transformadora do Evangelho, a família “remontará ao princípio” e voltará a encontrar a sua própria identidade de comunidade de pessoas vivificadas pelo amor de Cristo, animada pelo seu Espírito.

25. Mas é sobretudo na Eucaristia que a família cristã há-de encontrar tudo aquilo de que tem necessidade para superar todas as dificuldades, para ser sempre fiel a si mesma e à sua missão. Por conseguinte, a Eucaristia deve estar no centro de toda a vida familiar.

III. Relação Eucaristia-Família


26. Com efeito, existem muitos vínculos entre a Eucaristia e a Família.

Cristo instituiu a Eucaristia num contexto familiar, na última Ceia, à volta de uma mesa. E proclamou a verdade divina sobre o matrimónio, participando nas núpcias de Caná da Galileia e realizando aí o seu primeiro “sinal”: a água que se transforma em vinho (cf. Jo 2, 1-10).

27. A Eucaristia é o memorial da Aliança de Cristo com a Igreja, sua Esposa: uma Aliança nova e eterna, ou seja, irrevogável; uma Aliança da qual nasce a união entre os esposos cristãos; uma Aliança que forma a partir de dentro e vivifica continuamente esta última. A aliança matrimonial, pela qual um homem e uma mulher constituem entre si uma comunidade de vida e de amor, foi fundada e dotada das suas leis próprias pelo Criador. Por sua natureza, ordena-se ao bem dos cônjuges, bem como à procriação e educação dos filhos. Entre os baptizados, foi elevada por Cristo Senhor à dignidade de sacramento (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1660).

28. A Eucaristia é a máxima e mais sublime expressão do amor de Cristo pela sua Igreja. O sacramento do Matrimónio é sinal da união de Cristo e da Igreja. Confere aos esposos a graça de se amarem com o amor com que Cristo amou a sua Igreja; a graça do sacramento aperfeiçoa assim o amor humano dos esposos, dá firmeza à sua unidade indissolúvel e santifica-os no caminho da vida eterna (cf. Ibidem, n. 1661).

É nesta unidade indissolúvel que reside a estabilidade do lar, condição absoluta para a educação dos filhos e a verdadeira felicidade da família. Mas tudo isto fica ameaçado quando a unidade indissolúvel do sacramento é substituída pela irresponsabilidade do amigamento, pelo hedonismo da poligamia, pelo fracasso do divórcio, ou mesmo pela traição do adultério.

29. Como sacramento do amor, a Eucaristia é também, e por isso mesmo, o sacramento da unidade e da comunhão: comunhão hierárquica e comunhão fraterna (cf. Mane nobiscum Domine, 21). A Igreja é una, porque una é a Eucaristia. O Pão eucarístico faz de todos aqueles que o comem um só Corpo. Como fonte da unidade, da comunhão da Igreja e sua máxima manifestação, a Eucaristia é também nascente da unidade e da comunhão da “igreja doméstica”: a família. A unidade, a indissolubilidade e a abertura à fecundidade são essenciais ao Matrimónio. A poligamia é incompatível com a unidade do Matrimónio; o divórcio separa o que Deus uniu; a recusa da fecundidade desvia a vida conjugal do seu “dom mais excelente” (GS 50, 1, citado pelo Catecismo da Igreja Católica, n.1664).

30. Enfim, como “fonte e ponto culminante de toda a evangelização” (PO 5), a Eucaristia é o manancial daquele dinamismo missionário que deve animar toda a família cristã. O lar cristão é o lugar onde os filhos recebem o primeiro anúncio da fé. É por isso que a casa de família se chama, com razão, “a igreja doméstica”, comunidade de graça e de oração, escola de virtudes humanas e de caridade cristã (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1666).

31. A Eucaristia é, pois, necessária para a família cristã. É o seu centro indispensável. Mistério de luz, ela é a fonte da luz e da energia interior, de que a família tem necessidade para ser fiel, apesar dos inúmeros desafios e dificuldades, ao desígnio eterno de Deus.
Como modelo incomparável desta fidelidade ao plano de Deus, a Igreja propõe-nos a Sagrada Família.

32. Apesar de tudo, entre ‘luzes e sombras’, na família reside o futuro da humanidade. Assim, as famílias queiram ser motores e agentes privilegiados da mudança que se impõe. Delas dependem as alterações sócio-culturais que urge promover para o seu respeito.
Vêm a propósito as palavras de João Paulo II aos Bispos da CEAST: “Fazendo tudo o que está ao vosso alcance, queridos Bispos, para defender a santidade da família e o lugar prioritário que ela ocupa no seio da sociedade, não deixeis de proclamar em voz alta e clara a mensagem libertadora do amor cristão autêntico” (Mensagem na Visita ad limina, n.5).

33. O que se pretende com a pastoral familiar neste Ano da Eucaristia é fazer com que as famílias cristãs sejam cada vez mais fascinadas pelo ideal evangélico do matrimónio e da família, que se tornem comunidades cada vez mais vivas, feitas de fé e de oração, de obediência dócil à vontade divina e de profunda disponibilidade aos irmãos. Desta maneira elas tornar-se-ão o autêntico fermento de uma nova humanidade, de uma Angola nova.

IV. Orientações Pastorais

34. “A pastoral sacramental e litúrgica, a formação catequética, bíblica e teológica, as diversas expressões artísticas e musicais, e ainda os vários meios de comunicação sociais tradicionais ou modernos: tudo deve servir para que os crentes assimilem e vivam as riquezas da sua fé a fim de participar de forma plena na vida da respectiva comunidade eclesial” (João Paulo II aos Bispos da CEAST em Visita ad limina, n. 4).

A fim de celebrar o Ano da Eucaristia, propomos estas orientações práticas:
Para conhecer melhor a Eucaristia:
a) Nos retiros mensais, exponham-se temas eucarísticos;
b) Nas homilias, explique-se a santa Missa: símbolos, consagração, comunhão, e outras partes importantes;
c) Sendo também o Ano da Bíblia, façam-se estudos bíblicos sobre a Eucaristia
d) Organizem-se concursos de poesias eucarísticas.

Para melhor vivência da Eucaristia:
a) Promova-se maior frequência da sagrada comunhão, sobretudo ao domingo;
b) Estimulem-se as famílias a participar e a acompanhar a preparação dos seus filhos para a 1ª comunhão;
c) Facilite-se o casamento dos amigados, para poderem comungar;
d) Fomente-se a espiritualidade eucarística, com a adoração, visita ao Santíssimo, comunhão espiritual, etc.
e) Sobretudo “neste ano, seja vivida com particular fervor a solenidade do ‘Corpus Domini’ com a tradicional procissão” (Mane nobiscum Domine, 18).

35. A Virgem Maria, “Mulher eucarística” (cf. Ecclesia de Eucharistia, 53-58), que no Ano do Rosário nos ajudou a contemplar Cristo com o seu olhar e com o seu coração (cf. Rosarium Virginis Mariae, 10-17), faça crescer, no Ano da Eucaristia, todas as nossas famílias e comunidades cristãs na fé e no amor ao mistério do Corpo e do Sangue do Senhor.

Que a Virgem Imaculada, “primeiro tabernáculo da história” (Ecclesia de Eucharistia, 53) e ostensório vivo de Jesus, nos ajude a construir uma Angola onde a vida do homem seja sempre amada e defendida e, eliminada toda a forma de violência, a paz seja por todos tenazmente procurada e preservada.

Luanda, 11 de Março de 2005

Os Bispos Católicos de Angola e S. Tomé



1 comentário:

Anónimo disse...

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