sábado, dezembro 02, 2006

TERMINOU O BIÉNIO PASTORAL KERIGMÁTICO DA IGREJA DE ANGOLA E SÃO TOMÉ (2005 E 2006)

Com o fim do Ano Litúrgico 2006, hoje, 2 de Dezembro, terminou o biénio pastoral da CEAST que teve como tema o Kerigma.

A partir da trilogia pastoral do método indutivo de revisão de vida que supõe três momentos, ver, julgar e agir, a CEAST colocou em 2005 à vivência dos cristãos católicos angolanos e santomenses três temas a nortear o ritmo pastoral: duc in altum in docendo – Anúncio kerigmático (momento do ver, do encontro, do examinar o acontecimento); duc in altum in santificando – Celebração (momento do juízo, do julgar, do compreender, do verificar, da profecia); duc in altum in regendo - Vivência do Mistério de Cristo (momento do agir, de colaborar, de comprometer‑se, da conversão).

O plano pastoral há dois anos concebido para um triénio, um ano para cada momento ou tema, na prática a insuficiência de tempo e a necessidade de mais análise e meditação lhe mudou os prazos para temas tão ricos e vastos. Por isso, o kerigma foi vivido em 2 anos (2005 e 2006) e o ano da santificação será vivido também em dois (2007 e 2008). Ver-se-á oportunamente a duração do terceiro tema.

A proposta dos temas partiu da consideração que a CEAST fez da NMI, da Pastores Gregis e doutras indicações do Magistério de João Paulo II bem como da situação das igrejas locais de Angola e São Tomé. Urgiu a ideia de renovação do anúncio kerigmático de Cristo para uma adesão de fé mais convicta e duma vida cristã mais coerente.
No primeiro biénio 2005 e 2006 vivémos o tema do Kerigma: duc in altum in docendo. Vivémos o anúncio do kerigma de Cristo, Filho de Deus, morto e ressuscitado e doador do Espírito Santo, a verdade sobre Cristo e a verdade sobre o homem em Cristo. O objectivo foi de levar a que as pessoas conhecessem o mistério de Cristo e chegassem a uma renovada profissão de fé n’Ele e amor à Igreja. Foi o momento do ver (acontecimento), pese embora cada momento exija na prática pequenos momentos do ver, julgar e agir. Terminou este biénio e uma reflexão se deixa à revisão dos crentes. Segue:

O KERYGMA

Finalidade: Vivência do encontro com o Ressuscitado. Amadurecer o sentido de pertencer à Igreja, da oração e da missionariedade.

INTRODUÇÃO

O Cristianismo não é um moralismo, nem uma religião no sentido das outras religiões em que a iniciativa é tomada pelo homem para procurar um encontro com o seu deus; o Cristianismo também não é uma filosofia. O Cristianismo é, fundamentalmente, uma BOA NOTÍCIA (KERYGMA): Jesus Cristo rompeu o cerco de morte e de pecado que nos escraviza; venceu a morte para que possamos passar a barreira que nos separa do outro e amá-lo. A morte foi vencida com a morte e ressurreição de Jesus Cristo e agora podemos amar-nos numa nova dimensão.

A PASTORAL ACTUAL

1. Hoje em dia, na Igreja Católica, falamos muito de “Nova Evangelização”, da necessidade de passar duma pastoral de sacramentalização para uma pastoral de evangelização, no entanto, os conceitos e as formas não se ajustam na prática pastoral. Na verdade, continuamos a pretender levar as pessoas a Jesus Cristo através dos sacramentos ou presenças (exposição do Santíssimo; sacramentos; hierarquia; pobres; etc.)...

Este tipo de pastoral serve apenas para um grupo de pessoas que continua a ir à Missa, mas não serve para aqueles que já abandonaram a paróquia. Esta é uma pastoral de consumo ou de conservação. Este tipo de pastoral não serve para os afastados da Igreja.

Para acreditar que Jesus Cristo está no Sacrário ou na Missa é preciso ter fé. Para acreditar que Jesus Cristo está na Confissão é preciso ter fé. Para acreditar que Jesus Cristo está nos padres e nos Bispos é preciso ainda mais fé. Para acreditar que Jesus está nos pobres e nos que sofrem é preciso muitíssima fé, porque o sofrimento escandaliza e faz duvidar da existência dum Deus de bondade e de misericórdia. Porque existem as guerras, a fome, o cancro ou SIDA, as injustiças no mundo?...

2. A Pastoral de Sacramentalização não é uma pastoral Missionária, porque ela não responde ao tipo de homem que está fora da Igreja. Temos de encontrar uma presença de Jesus Cristo que fale ao afastado da igreja e não tem fé, de tal modo que o homem pagão, ateu, des-sacralizado, técnico e pragmático, vendo essa presença ou sinal possa conhecer Jesus Cristo.

É preciso, então, que a Paróquia tenha sinais que chamem os homens à fé, para que as pessoas acreditem que Jesus Cristo é o Enviado do Pai para elas, saibam que Deus existe e não está indiferente aos seus sofrimentos e problemas, mas que enviou um Salvador, que é Jesus Cristo.

São necessários sinais que potenciem a pregação e chamem as pessoas a escutar a Boa Notícia. Quais são esses sinais? O Amor e a Unidade! (Jo 13, 35. 17, 21)!

3. Onde estão esses sinais? Onde estão os verdadeiros cristãos? O homem não aceita a insegurança, serve-se de Deus para alcançar o seu ideal de felicidade. O divórcio que vemos entre o cristianismo e a vida deve-se ao facto da religiosidade natural se ter infiltrado no cristianismo e, portanto, o homem de hoje não encontra as respostas últimas ao sentido da vida. Vive a fé num nível mágico.

É verdade que as nossas igrejas ainda estão cheias. Mas por pouco mais tempo... A guerra acabou, vive-se agora um clima económico efervescente, os interesses são outros. Vislumbra-se um processo de secularização, em que as pessoas se vão tornando ateias práticas, devido aos avanços económicos. O ateísmo deixa de ser um fenómeno de minorias e passa às massas. Muitos dos pobres procuram a Igreja, não por Jesus Cristo, mas para pedir a satisfação das suas necessidades imediatas; muitos dos intelectuais também não a frequentam. O mundo pouco a pouco vai abandonando a Igreja. Os missionários que não trabalharem para uma pastoral de futuro ficarão com as igrejas vazias, ou com um pequeno grupo de pessoas religiosas naturais, que não darão nunca os sinais da FÉ: o amor ao inimigo e a unidade, ou seja, não são Cristãos Adultos.

É cristão aquele que venceu a morte. Jesus veio para que o homem possa caminhar sobre a morte (Mt. 14, 22-33), porque a morte é aquilo que nos cerca a todos. Ninguém pode caminhar sobre a morte, só Jesus, porque foi o único que venceu a morte, por isso Jesus caminha sobre as águas. Este é o sinal da fé: caminhar por cima da morte, ter mais poder do que a morte. Esta é a Boa Notícia: Jesus vem libertar-nos a todos da morte.

NECESSIDADE DUMA NOVA EVANGELIZAÇÃO

A nossa sociedade é uma sociedade pós-guerra. É uma sociedade traumatizada. Esta sociedade sofre uma situação de “anomia”, ou seja, os valores que antes imperavam, agora não têm qualquer valor. Nesta sociedade encontramos dois tipos de pessoas: aos que chamamos nihilista e socialista. O primeiro é aquele que, depois do que sofreu na guerra, já não acredita em ideologias. Só acredita no trabalho, no progresso técnico-científico e no dinheiro. É um homem calculista, que lhe interessa estudar muito, é pragmático e realista, a quem as coisas e os outros só lhe interessam enquanto são eficazes. O outro tipo de pessoas é o socialista. Este converteu a sua religiosidade num ideal, que pode ser, por exemplo, mudar as estruturas. Acredita que a sociedade pode ser transformada através de novas estruturas e luta pela mudança na acção social. Para este homem a Igreja é um retrocesso, um entrave às mudanças de estruturas onde a religião impede que o homem se torne adulto e dono do mundo.

4. A missão da Igreja é apanhar toda a gente que está fora e metê-la lá dentro?... Se assim fosse, passados dois mil de Cristianismo, diríamos que Jesus Cristo fracassou...

Jesus, no Evangelho de S. Mateus 5, 13-15 diz que a Igreja é a LUZ, o SAL e o FERMENTO. A Luz é um serviço, serve para iluminar a realidade. A missão do Sal é morrer, não ficar inteiro mas desfazer-se para dar sabor ao resto. O fermento, de igual modo se dilui na massa...

Se a Missão da Igreja é que todos os homens se salvem entrando nela então temos de conseguir que todos se sacramentalizem, entrar nas casas das pessoas e obrigá-las a vir à Missa... O Concilio Vaticano II chama à Igreja Sacramento de Salvação, por isso o importante será criar dentro das Paróquias e Centros um sinal para os ateus, nihilistas e socialistas. Se a Igreja é Sacramento de Salvação, o importante não é que as igrejas estejam cheias de gente mas que os cristãos o sejam de verdade. Ser Igreja não é nenhum privilégio social, mas um dom gratuito de Deus para serviço dos homens.

NECESSIDADE DUM ENCONTRO COM O RESSUSCITADO

5. O Cristianismo é fundamentalmente uma BOA NOTICIA (KERYGMA), é um acontecimento histórico que irrompe nas nossas existências e na nossa situação concreta, mudando-a radicalmente. É a noticia que transformará completamente a vida de quem a acolhe, é a notícia que esperam todos os homens. Porque é tão importante a notícia que o cristianismo dá?

Diz a carta aos Hebreus 2, 14-15: “tal como os filhos têm em comum a carne e o sangue, também Ele partilhou a condição deles, a fim de destruir, pela Sua morte, aquele que tinha o poder da morte, isto é, o diabo, e libertar aqueles que, por medo da morte, passavam toda a vida dominados pela escravidão.” O problema do homem, na antropologia bíblica, é apenas um, o homem está escravizado pelo senhor da morte, o diabo; o homem é escravo do diabo, pelo temor que tem à morte. Esse temor acompanha-o durante toda a vida. O homem está cercado, escravizado pela morte, pelo temor que tem à morte. Só Jesus Cristo tem o poder de arrancar o homem dessa situação, aniquilando e vencendo a morte. Não se trata da morte física.

6. O que faz sofrer o homem é tudo aquilo que o destrói, tudo o que mata, sejam os defeitos do outro com quem convive ou com quem trabalha, alguma doença, o desemprego, as coisas em casa não serem como um quer, o salário magro, o chefe do trabalho ser muito exigente... o que faz sofrer o homem é tudo aquilo que, de algum modo, ameaça a sua personalidade, tudo o que vai contra a sua realidade existencial de vida, e que de algum modo o destrói e o mata. O homem está escravizado porque não quer morrer, porque tem medo da morte, da morte ontológica. Por isso, é um escravo do mal e obedece apenas às suas concupiscências, tornando-se um insatisfeito, em estado de sofrimento porque tem gravado em si a Lei Natural e sabe que se realiza amando o outro, transcendendo-se no outro, mas é incapaz de o fazer. O homem quer fazer o bem no entanto é o mal que faz.

O marxismo dirá que o homem vive alienado numa sociedade injusta, a psicologia diz que é pelos traumas e complexos. O Cristianismo diz que o homem não pode fazer o bem porque se separou de Deus, porque pecou e ficou ferido, incapacitado... O pecado vive em nós como uma semente de morte. O homem experimentou a morte e agora não quer morrer, experimentou o “não-ser” e quer Ser. Tentando fugir da morte, o homem torna-se um idólatra, procurando a vida e a felicidade nas coisas.

7. O homem está dominado pela morte e pelo pecado, mas Jesus Cristo venceu este cerco. Ele foi constituído por Deus como Kyrios. Só n’Ele o homem pode ser verdadeiramente re-criado, recuperando a imagem de Deus e transformando-se no próprio Deus: ser filho de Deus, ter a natureza de Deus. Jesus Cristo rompeu o cerco de morte que escraviza o homem e estabeleceu uma nova dimensão no amor. Ele morreu e ressuscitou para perdoar aos homens. Agora o homem pode passar pela morte e fazer obras de vida eterna, porque recebe o Espírito de Jesus Ressuscitado.

8. Em Cristo, Deus inaugura uma nova criação. Faz uma nova humanidade: o homem novo. Jesus Cristo é o primogénito desta nova criação, Ele foi constituído nosso Salvador. N’Ele unem-se Deus e o homem. Ele é a imagem da nova humanidade. A Ele estão submetidos todos os poderes, porque foi constituído pelo Pai como Senhor e Kirios de todos os poderes que nos escravizam, nos amarram e nos destroem.

Em Cristo, a humanidade adquire a dimensão que Deus tinha preparado de antemão, antes da criação do mundo “Ele escolheu-nos para sermos santos e irrepreensíveis na sua presença, no amor (...) para que seja prestado louvor à glória da sua graça, que gratuitamente derramou sobre nós, no Seu Filho bem amado.” (Ef. 1, 4-6).

Deus não se importou de descer às regiões do nosso pecado, para matar o nosso pecado na Sua Cruz e perdoar-nos todos os nossos pecados, dando-nos, gratuitamente, a possibilidade de sermos filhos de Deus. Dá-nos a Sua graça e o Seu Espírito, através do qual temos acesso ao Pai. Em Cristo, nós somos herdeiros de Deus e irmãos de Jesus Cristo, pelo qual podemos chamar a Deus Papá, Abbá, sentindo-o mesmo, tendo verdadeira confiança em Deus.

Se Deus põe o Seu Espírito em nós, tudo é graça e tudo é amor, porque arrancados pela situação de terror, de morte e de pecado, vivemos na graça, na gratuidade, no amor de Deus. Já não estamos sob o domínio da Lei mas sim sob o regime da graça, porque Deus perdoou todos os nossos pecados, porque Deus é Amor e não pode fazer outra coisa senão amar, mesmo que sejamos os maiores pecadores.

9. E como se manifesta que somos uma nova criatura? Na Igreja, sinal da Boa Noticia que chega aos homens: numa comunidade de pessoas que se amam numa nova dimensão. Amar até dar a vida, “amar até doer” dizia a Beata Teresa de Calcutá. A Igreja torna patente que o amor de Deus (que é um amor sem limites) tem a Sua tenda entre nós. Este amor é oferecido gratuitamente a toda a criatura.

Alguns textos para reflexão:
Act. 2,14-25.29-34.36-41
Act. 3,13-14a
Act. 13,16ss
Rom. 4.18-25
Rom. 10,8-11.13-17
1Cor. 15,1-8.35-38.42-47.54-57
Sugestões:

Potenciar nas Paróquias e Centros um Catecumenato de Adultos pré e pós-baptismal (ex: Catecumenatos Diocesanos para Adultos ou Comunidades Neo-Catecumenais);

Apostar mais na formação permanente de todos os agentes de pastoral, a todos os níveis (ex: Escolas de Catequistas ou Escolas de Evangelização, privilegiando a conversão ou adesão pessoal a Jesus Cristo, mais que aos conceitos, mentalidade catecumenal);

Desenvolver a Pastoral em pequenos grupos (A Paróquia é Comunidade de Comunidades) onde o acolhimento e as relações inter-pessoais sejam mais eficazes e as comunidades possam ser evangelizadas e evangelizadoras;

Evangelização dos ambientes;

Materiais a usar: catecismos (mesmo que antigos) mas que a catequese seja adaptada à situação concreta das pessoas e do seu ambiente; Catecismo da Igreja Católica; Bíblia; audio-visuais (sem descuidar o verdadeiro testemunho pessoal de vida);...

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